sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Manderlay (2005) - Diretor Lars von Trier

Antes de tudo, quero deixar bem claro que esse texto é sobre as minhas impressões a respeito o filme Manderlay, e que me sinto em liberdade para expessar minha opinião sem me preocupar com uma crítica de cunho acadêmico. Digo isto porque talvez muitos não concordem com o que direi: o filme Manderlay não consegue ser nem metade do que o Dogville é.

Primeiramente, porque o que foi inovação no Dogville já não surpreende no Manderlay. O cenário (ou a falta dele) já é algo que esperamos, surpresa seria, então, se o Lars fizesse diferente. A diferença é que em Manderlay há mais alguns elementos (como a casa grande da Senhora, por exemplo) e o contraste de luz (dando a impressão de mudança de tempo) não é explorado como o foi em Dogville. O que, particularmente, considero uma perda.

A temática de Manderlay é muito mais clara, apesar de não ser totalmente explícita. A ação começa mesmo quando a Grace, interpretada agora por Bryce Dallas Howard, está passando por Manderlay e uma mulher negra a para e pede ajuda. Manderlay é uma cidade que mantém a escravidão depois de 70 anos que esta tinha sido proibida nos Estados Unidos.

Grace, indignada com a situação, resolve impor a democracia à força. Esse é um dado interessante a respeito da nova Grace, ela não tem nada de doce, nada de altruísta. Pelo contrário, ela é arrogante, tem sempre um discurso moralizante pronto, e ela quer ensiná-lo. Essa nova Grace parece a própria encarnação de Tom (de Dogville), ela quer fazer as mesmas reuniões-aula; quer que o povo aprenda, assim como Tom queria.

E se em Dogville Grace sobrepujava em doçura e se resguardava, apesar os constantes abusos sexuais, para o seu amor, sem que nenhum traço de desejo fosse visto nela. Em Manderlay não acontece o mesmo. Ela deseja ardemente os corpos dos homens, não apenas de um, mas de todos os que ela espiava na casa de banho. Chega mesmo a criar um mecanismo nada sutil, para se satisfazer sexualmente, quase se machucando, para tanto.

Essa mudança de personalidade não parece fruto da experiência em Dogville. Se for, isso não ficou claro e então parece ser mais uma incoerência que um ‘amadurecimento’. Sou da firme opinião que Lars deveria ter parado em Dogville. O filme constituir-se uma sequência, NA MINHA OPINIÃO, foi um erro. Mas ele, Lars, deve ter ficado em uma encruzilhada: ou mudava o nome do filme e era acusado de agora usar uma receita de bolo; ou ele continuava a trilogia e corria o risco de sofrer comparações e seu filme ser apontado como incoerente.

É, sofreu comparações.

É claro que filmes como esses são obras abertas, o papel do telespectador é de fundamental importância, quem assiste também é levado a construir sentidos. Apesar de poder afirmar com bastante certeza que a película versa sobre a situação do negro em geral, mas sobretudo nos Estados Unidas, já não é com a mesma segurança que trilharia a intenção. No fim das contas, o foco é o preconceito que o negro tem consigo mesmo? Ou, que, de certa forma, os negros eram preservados e que agora eles já não tem que os defenda? Ou que não interessa o quanto o Governo, representado na figura da Grace, se interesse pela situação do negro, ao final eles sofrerão de uma forma ou de outra? O comportamento dos negros faz uma alusão ao povo de Israel que libertado do Egito não fazia outra coisa senão reclamar?
Uma outra coisa é que não é possível não comparar a postura da Grace com a postura dos E.U.A em relação a implementação da ‘democracia’ em outros países, como o Iraque, por exemplo. O posicionamento ideológico dos Estados Unidos ao querer enfiar goela abaixo a democracia - querendo ou não -, muito se assemelha ao da Grace, que tenta instaurar a democracia com o uso de armas e capangas. Grace, todavia, não ignora sua posição de poder, tanto que diz ao seu pai, para convencê-lo a deixá-la em Manderlay, que ele havia dito que ela poderia usar o poder dela em qualquer coisa, e agora ela queria usá-lo.

Não nutro esperanças que o terceiro e último filme da trilogia ainda apareça. Mas é uma pena, talvez apenas com ele, com essa conclusão, se percebesse com maior acerto a proposta de Lars em suas obras.

2 comentários:

Alline disse...

Talvez não seja muito meu estilo, mas vou espiar. Dica anotada. ;)

Beeeeeijo, Dai!

Mari 2 disse...

Muito boaa a postagem, Dai!
Vou assistir o filme o quanto antes, pena saber que não é tão bom quanto Dogville! =/
Beijos Mari 2