segunda-feira, 26 de julho de 2010

DOGVILLE

DOGVILLE (2003) FICHA / TRAILER

SITE OFICIAL

Adjetivos: intrigante, teatral, angustiante, longo, inconformante, original, complicado, irônico.

Sinopse: Estados Unidos, durante a Grande Depressão. Grace (Nicole Kidman) está fugindo de um bando de gângsters. Ela chega à isolada cidade de Dogville, onde é auxiliada por Tom (Paul Bettany), um morador, que intercede em seu favor junto à comunidade local: eles a ajudam a se esconder e, em troca, ela se compromete a prestar-lhes pequenos serviços. O problema é que os bandidos intensificam a busca, o que faz com que os habitantes da cidade passem a correr perigo também. Eles querem receber mais em troca do risco ao qual estão expostos e Grace percebe que sua tranquilidade custa mais do que supunha.

ATENÇÃO!!!
PEÇO QUE ASSISTA O FILME ANTES DE LER O QUE VOU ESCREVER. DAQUI EM DIANTE AS IMPRESSÕES SÃO MINHAS E DE OUTRAS PESSOAS, TIRE SUAS CONCLUSÕES E DEPOIS COMPARE. E COMENTE.
E QUE FIQUE ATENTO AO LINKS QUE COLOQUEI EM DETERMINADOS TERMOS.

IMPRESSÕES

DOGVILLE é um filme complicado. Por favor, entenda o uso que fiz do termo “complicado”. Se você for uma pessoa com algum conhecimento filosófico, sociológico, histórico, psicológico, literário, vai sentir a mente borbulhar de tantas informações. Informações, essas, que levarão a outras mil, as quais também levarão a mais algumas. Secar a fonte de intertextualidades desse filme é um pouco difícil: não impossível, mas, no mínimo, “complicado”.

Confesso que a primeira vez que assisti, sabe-se lá o porquê, não percebi metade dos detalhes que vou comentar agora. É aquela história de experiência pessoal... Por isso digo sempre ser importante ver um filme repetidas vezes, com certo espaço de tempo entre elas. A interpretação é sempre diferente. Assisti pela primeira vez com a Daiany (uma das colaboradoras deste blog), num momento em que não estudava, enquanto ela cursava Letras. O filme rendeu, após suas quase 3 horas, mais algumas horas de discussão sobre alguns tópicos que surgiram em nossas mentes. Troca de papéis, Daiany sai de cena agora, quem estuda Letras agora sou eu, e a pessoa que assiste ao filme pela primeira vez é a Giovanna (outra colaboradora). Passamos horas discutindo o filme. Horas produtivas. Tão produtivas que deram origem a este blog. Ou seja: assistir o filme na companhia de alguém será mais produtivo, pois o filme é polêmico, denso, “complicado” e outro ponto de vista ajuda, principalmente se a pessoa já assistiu ao filme uma vez.

Bom, vou tentar ser breve. (difícil...)
DOGVILLE é dividido em 1 prólogo e 9 capítulos. Todo capítulo tem uma pequena sinopse do que vai acontecer, como quando lemos uma peça de teatro. O filme em si é teatral. A filmagem, cenas, atuação, é tudo muito teatral. Prepare-se para um tipo de filme não-hollywoodiano. Pode ser difícil no começo, mas vale a pena.

Prólogo e primeiras cenas: temos uma breve descrição da cidade e dos habitantes, cada um com sua função. (Atente para o Determinismo Geográfico que é explorado no filme) Lembrando que a disposição de objetos e casas é mostrada por riscos brancos num chão preto. Preto é o fundo do cenário também. Isso causa certo desconforto à primeira vista, falta de cores, falta de natureza, mas depois percebe-se que tal “desconstrução” visual é proposital: o diretor pretende dar ênfase à ação, colocando o cenário como secundário, mas também importante. Justamente por ser DOGVILLE uma cidade “alegórica”, ou seja, qualquer / toda cidade pequena Estadunidense daquela época. A existência de portas, limites e do clima da cidade são mostrados pelas ações dos personagens e pela nossa capacidade de imaginação. Sabemos que está de dia quando o fundo fica branco e noite quando preto. Encontrei um post RECOMENDADÍSSIMO sobre o filme, numa visão mais religiosa, que dizia:

"Estes recursos em muito estão associados ao Teatro Didático de Bertolt Brecht (1898-1956) - que buscava se distanciar do realismo, fazer com que o público percebesse de forma inequívoca que suas peças eram representações de uma situação política real, cotidiana, e que era necessário e desejável que o público identificasse os personagens reais que aqueles personagens ficcionais estavam representando."(http://insurretosfuriososdesgovernados.blogspot.com/2009/03/o-deus-gangster-de-dogville-paulo.html) LEIAM ESSE SITE INTEIRO! É SENSACIONAL!
Até o cachorro da vila, Moises, não está representado em carne e osso. DOGVILLE. Vila do CACHORRO? Ahh... começamos aqui a fazer alguma comparação. Possibilidades. Enquanto escrevia isso me toquei que Moises poderia ser alguma referência. Fui atrás. Bem, tem várias hipóteses... leiam primeiro essa: http://www.cineplayers.com/comentario.php?id=20537 e depois esse trecho:
"Aliás, interessante como outra metáfora, que o cachorro do filme (dog of the ville ou o vilarejo do cachorro), se chama exatamente Moisés. Observe-se que ele é simbolizado apenas, não tem existência concreta. O lugar em que deveria estar é riscado no chão, como naqueles filmes policiais cujo risco no chão mostra onde se encontrava o cadáver. Quer dizer, a metáfora seria que o líder, no sentido da liderança pragmática praticada por Moisés, não existia na comunidade, pois o "lider" de Dogville, que por sinal nem foi eleito, é aceito, provisoriamente, muito menos pelas suas próprias qualidades que pelas necessidades dos "liderados", exatamente como já constatara o grande Bion sobre os líderes emergentes nos grupos humanos."
(
http://www.sosp.med.br/artigos/dogville.html)

Já que falamos em osso, o osso tirado do cachorro por Grace é o que desencadeia o encontro entre Grace e Tom.

PERSONAGENS E RELEVÂNCIAS

Tom: é escritor e filósofo. Thomas Edison Jr. (duvido que seu nome seja uma mera coincidência com o nome do inventor THOMAS ALVA EDISON) que, tal qual o famoso inventor, parece ser um visionário.Gloria: = FAMA -> Famosa na cidade? Sim.
Bill: um cara burro que tenta virar engenheiro. Em vão. Perde nas Damas para Tom, todos os dias, como mais uma prova de sua pouca inteligência. No final, depois que Grace o ajuda nos estudos, Bill se torna o criador do "mecanismo" que será responsável por prender a própria Grace na cidade.
Thomas Edison (pai): médico, porém, ironicamente hipocondríaco.
Jack McKay: cego. Tenta enganar a si mesmo dizendo não ser cego. Todos da cidade sabem, porém que ele o é. Ironicamente, ele tem a melhor vista da vila. (Esse papel me lembra muito o livro "Ensaio sobre a Cegueira" do recém-falecido José Saramago, leitura recomendadíssima)
Ben: entregador da cidade. Ele também entrega Grace, quando esta pede ajuda dele para fugir da cidade, escondida no caminhão. Além disso, Ben ainda aproveita a situação de "falso isolamento" de ambos (criada por ele) e abusa sexualmente de Grace.
Ma Ginger: Dona da loja. Cuida dos arbustos.
(Nesse trecho é interessante mostrar que Grace tem que cuidar dos arbustos. Em certo momento, as coisas que Grace faz para ajudar, que antes eram desnecessárias, se tornam muito necessárias (cítica ao comodismo) e as pessoas aumentam a pressão sobre ela, dobrando sua jornada de trabalho, sem aumentar o "pagamento", o acolhimento que davam em troca, ela é praticamente escravizada, explorada e pela pressa, começa a fazer tudo "meia-boca". Na pressa, passa despercebida ao lado dos arbustos. Ma Ginger fica inconformada e cobra mais respeito pelos arbustos.) -> É como se fosse um motivo para discutir, no filme, o assunto da alienação causada pelo trabalho e rotina alucinantes. (que na verdade são causadas pela própria sociedade que as critica)
Chuck: é o responsável pela colheita das maçãs. Tem 4 filhos. Veio da cidade grande e não aceita bem Grace, segundo ela, por fazê-lo lembrar da vida que tinha antes. Força Grace a fazer sexo com ele. Todas as noites.
Jason: é um dos filhos de Chuck. Quer sempre colo e carinho da nova professora: Grace. Chega ao ponto de pedir para que ela bata nele. Se torna perverso. Chantagista. Ganha as palmadas que pediu por falar que mesmo se não apanhasse, iria contar pra mãe que apanhou.
Masoquismo.

Chega a ser engraçado como, até certo momento, sentimos pena de Grace. Mas ao assistir, paira uma desconfiança. Será que ela é uma coitada que está fugindo de bandidos? Ou será que ela eh uma bandida fugindo da polícia? Só se descobre no final, que ela é filha do chefe Gângster e que estava lá de propósito, como que numa missão, numa penitência, ou talvez querendo dar uma lição na cidade, mostrando como a vida é na verdade.

Intrigante:
7 é o número de bonequinhos que Grace deseja ter. Consegue 5 por seu trabalho. Vera, mãe de Jason e mulher de Chuck quebra todos como punição por Grace ter feito o que fez com seus familiares. O número 7 não parece gratuito. 7 são os pecados capitais, mas também as maravilhas do mundo. 7 é um número cheio de simbolismo. 7 eram as conquistas dela? Me ajudem! =]

O único ser que não morre, da cidade inteira, é o cachorro. Talvez por ser a representação da religião, da crença. Outra palavra que vem à cabeça:
DOGMA.


Curiosa a organização da sociedade, sem lei, sei religião, sem polícia, sem comandante político, uma sociedade que se organizou por conveniência. Sociedade que se auto-organizou.

Curiosa também a citação cunhada na porta da mina da cidade: DICTUM ET FACTUM. (Dito e feito.) Talvez numa remetência ao fato de que tudo que aconteceu foi diot, planejado por Grace, e feito.
Outra relação que somos capazes de fazer é sobre o objeto MAÇÃ, o qual lembra: pecado, fantasia, fertilidade.Outro site interessante sobre o filme (LINK)Detalhe que o filme faz parte de uma suposta trilogia: WIKIPEDIA; Dogville é um filme lançado em 2003 e dirigido por Lars von Trier, estrelando Nicole Kidman e Paul Bettany entre outros. Este filme faz parte da trilogia "E.U.A. Terra de Oportunidades" tendo como seqüência Manderlay (2005) e Wasington (planejado inicialmente para 2007, atualmente sem data prevista).

Bom, acho q é isso, o post já está gigante. Se deixei algo importante de fora, que não se encontra nem nos sites que indiquei, ou algo que você ache interessante falar, por favor me avise. Assim podemos deixar o post completo. (com os devidos créditos, é claro)
Abraços e até a próxima. Fiquem atentos à lista de próximos assuntos que sempre deixarei atualizada no canto direito do blog.
Espero que gostem. Comentem!
Luis Felipe

3 comentários:

Daiany Maia disse...

Ei,

assisti Dogville ontem, pra assistir Manderlay pra escrever aqui. Várias considerações, mas acho que pra comentário fica muito extenso, acho que te mando e-mail...rs

Se fosse a Junqueira diria: "é uma obra de grande fôlego"

ô

beijo

Daiany Maia disse...

Te mando e-mail, daí você decide o que fazer com o texto, inclusive a opção: nada.

beijo

naty . disse...

assisti o filme há MUITO tempo... quando lançou em DVD.. porque aqui nessa cidade, ele não passou no cinema...
a minha compreensão na época foi que:
o pai de grace, o mafioso, queria acabar com a vila... e grace era contra e querendo salvar a vila foi viver lá pra provar ao pai, que lá não deveria ser destruído, pois as pessoas eram inocentes e boas... porém, tudo provou pra ela o contrário e as pessoas da vila se foderam...
quando o pai dela chegou, matou todo mundo!!

que nem "sodoma e gomorra".